Estrela Cadente - Parte 13

Estrela Cadente - A história de um breve sonho

Parte 13

- E então, queres contar-me o que se passou?
- Tu não devias estar aqui!
- Porquê? Não me queres aqui?
- Quero, quero muito.
- Então?
- Esta noite tive um sonho que me fez alguma impressão. Sonhei que estava grávida… - Houve uma pausa e ambos se olhavam apenas. Kevin não queria interrompê-la, aprendera que isso era pior. – Mas era tudo tão real. Lembro de me olhar ao espelho e ver a barriga, de a sentir. Era demasiado para mim.
Kevin chega-se um pouco perto dela e dá-lhe um beijo na cabeça.
- Estou aqui agora.
- Obrigada!
- E de quem era o rebento, meu?
- Sim, era uma menina, senti isso também.
- Se tivéssemos uma menina que nome lhe gostarias de dar?
- Não sei, nunca pensei muito nisso. Mas gosto de alguns nomes.
- Eu gosto de Carolina.
- Amo, parece perfeito!
Sorriram e não falaram mais disso, sentiram as suas vontades crescer, os seus pontos frágeis renasceram e quando notaram já se tinham beijado. Escutavam uma música algures – Per7ume “Se me falas assim”. A razão ficou para depois, as linhas desta história mudaram quando se começaram a acariciar e a tornar tudo um fruto proibido.
Já não importava que horas eram, quem eram, o que eram. Importava apenas que estavam ali dois corpos, duas almas e o prazer. Uma bela combinação.
Depois de muito tempo a negar e a dizer não ao Kevin, foi incapaz de dizer o que quer que fosse desta vez. Apenas conseguiu dizer.
- Tem cuidado com a Carolina.
- Tenho sim, bebé.
Fizeram amor e foi tão intenso quanto a primeira vez, tão forte e tão genuíno que se tornou estrondosamente especial. Por vezes o sexo depende de pequenos detalhes e momentos como este mudam tudo. Esta fragilidade de ambos poderia transformar-se no maior erro das suas vidas, mas quem sabe não fosse o passo que faltava para tudo bater certo.
Por vezes, nunca se sabe o futuro. Melhor, nunca, em circunstância alguma se consegue saber se é certo ou errado. Mas temos um dom, o sentimento. Aquilo que sentimos pode transformar-se em fé, a fé que alimenta a esperança de uma história de amor como aquelas dos filmes de cinema.

“Em amor um silêncio vale mais do que uma linguagem. É bom ficar sem palavras; há uma eloquência no silêncio que penetra mais do que a língua o conseguiria.”
- Blaise Pascal –

Fotografia: Rodrigo Oliveira !! http://rodso-art.blogspot.com/

Estrela Cadente - Parte 14

Estrela Cadente - A história de um breve sonho

Parte 14

O tempo tornara-se o pior inimigo deles. Jamais conseguiram encontrar o caminho de regresso, aquele “nós” que um dia Kevin prometera construir. Mas amar não é só querer, é preciso sentir e ele não o conseguia sentir.
O tempo era um inimigo invisível que os ia separando dia após dia. O contacto tornava-se nulo, a certeza do que sentia era escassa e nesse tórrido verão de 2010 as coisas ficariam tão vazias como um copo sem nada em cima de uma mesa.
Kevin estava a terminar os seus dias por Coimbra e mal sabia disso. Tinha a pequena dúvida do que ia ser o seu futuro e Coimbra não era o local mais apetecível de ficar. Porto erguia-se por algum motivo. Algo estava a causar um certo magnetismo à sua vida e a desviar toda a vontade de viver para a cidade invicta.
Assim que terminou a licenciatura, começou a enviar o seu curriculum para várias empresas - todas elas no porto.
Estava a restringir a sua área pessoal e a comandar a sua vida para lá. Acreditando que, naquilo, havia um inconsciente motivo que lhe dava a razão de o fazer, só não sabia bem o que era.
Os seus primeiros tempos pelo Porto foram controversos, uma adaptação um pouco complicada com bastantes regressos a Coimbra. A cidade onde tinha crescido nos últimos quatro anos tinha marcado parte da sua vida.
No Porto, os dias corriam normalmente e começava a falar novamente com a Sara. Ela foi bastante fria em cada vez que ele lhe perguntava qualquer coisa. Mas Kevin continuou a sua persistência. A cada encontro que ele tentava arranjar, ela esquivava-se sempre com uma desculpa qualquer para o esquecer. Ela tinha passado um dos piores verões de sempre. A pessoa que amava, afinal não era a certa. O homem que queria durante anos era afinal um egoísta que não pensava nos sentimentos dela. Centrava em si todo o seu esplendor e atenção e ela era uma mera figura secundária que parecia não ter sentimentos. Mas tinha, tinha sentimentos por ele e cada gesto incoerente marcava-lhe a alma e esmagava-lhe o coração. Tinha decidido que não podia ceder nunca mais. Tinha decidido que a partir de agora a revolução ia começar e a sua vida também. Tinha conseguido arranjar uma escola para dar aulas e assim esquecia o seu lado pessoal dando apenas importância ao lado profissional. O resto viria com o tempo.
A luta de Kevin estava num nível elevado e todos os dias lhe mandava uma mensagem para saber como estava. Uma mensagem a dizer o que sentia e que ia fazer de tudo para que ela tivesse aquilo que sempre quis. Alguém que a amasse.
Kevin definira que ia lutar com tudo o que podia porque agora sabia o que tinha de fazer para amar. Era ele que lhe dizia ser o único capaz de lhe dar aquilo que ela mais queria. Aquilo que uma verdadeira mulher e especial ambiciona. Um lar, uma família e um futuro. Alguém que possa ser o seu amante e o seu amigo, alguém que seja a pessoa mais importante do mundo mesmo com os seus defeitos. Alguém que simplesmente ame e se deixe amar sem nunca questionar forças da natureza.
Agora ele sabia o segredo das coisas, basta lhe apenas o caminho.

“Só raramente conseguimos que nos amem, mas é sempre possível fazer com que nos estimem.”
- Bernard Fontenelle -

Fotografia: Rodrigo Oliveira !! http://rodso-art.blogspot.com/

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Estrela Cadente - Parte 15

Estrela Cadente - A história de um breve sonho

Parte 15

Kevin, preciso que saibas uma coisa…
[Mensagem enviado] [Entregue a: Kevin]
O que é?
[Mensagem enviada] [Entregue a: Sara]
Nestes últimos tempos sei bem que te tens esforçado e peço desculpa por não ser sincera contigo, mas voltei a cair no mesmo erro novamente. Aqui há uns tempos conheci um rapaz por quem senti uma certa empatia. Acabei por gostar dele e, agora, tem uma namorada. Ou seja, andou-me a enganar este tempo todo.
[Mensagem enviado] [Entregue a: Kevin]

Em tempos, isto seria uma gota muita importante num copo quase cheio. Ele não tolerava faltas de sinceridade e chateava-se imenso. As discussões começavam por aqui.

Não faz mal que não me tenhas contado, estarei aqui para o que for preciso, mesmo que tenha de sofrer. Eu mereço isso. Quanto a ele, é porque não te merece.
[Mensagem enviada] [Entregue a: Sara]
Obrigada, és um anjo…
[Mensagem enviado] [Entregue a: Kevin]

Surpreendentemente, ela adorou aquela reacção. Era aquilo que ansiava anos e anos, alguém que mantivesse a calma e lhe desse o carinho devido. Foi um gesto arrepiante e demasiado forte que a fez mudar imenso. Decidiu após a entrada em 2011 que iria permitir-lhe entrar novamente na vida dela, como um grande amigo.
Kevin referia que isso iria mudar porque iria fazer com que eles acabassem juntos e a sua determinação agradava-lhe. Sara já não lhe negava, apenas se refugiava no tempo esperando que lhe desse as respostas certas. Os motivos tornavam-se suficientes e ela voltava a acreditar.

Dias mais tarde estiveram juntos e como foram felizes. Numa conversa animada numa noite à beira-mar não relembraram nada do passado, falaram apenas de cada um deles e de como viam o futuro, falaram de tudo que não magoasse os sentimentos de ninguém. Uma conversa que animara Sara em todos os sentidos. Kevin era tremendamente especial, conseguia ter uma visão do mundo notável, e ao mesmo tempo estranha, diferente dos outros rapazes. Sara sabia disso mas nessa noite tinha ficado feliz.
Irradiante e sorridente, acabava por ter um contacto desequilibrado com Kevin nos dias seguintes, por motivos de trabalho não puderam falar tanto até que ela lhe envia uma mensagem:

Kevin, tenho reparado que ultimamente é um frete para ti falares comigo, pois bem! Está descansado que não te chateio mais com as minhas mensagens, fica bem, beijo.
[Mensagem enviado] [Entregue a: Kevin]

Kevin ficara tremendamente irritado e espantado com aquela mensagem, como não estava com a cabeça fria decidiu pensar naquilo mais tarde. Contudo, esse mais tarde tardou em chegar, ao contrário duma nova mensagem dela.

Acho que uma palavrinha não custava nada, não percebo a tua reacção, o teu silêncio, mas respeito, espero que estejas bem…
[Mensagem enviado] [Entregue a: Kevin]

As respostas tardavam em aparecer…

Desiludiste-me muito, nunca pensei que irias deixar de falar para mim assim do nada, tanto falavas dos outros e, afinal, tantas teorias não sei de quê e nem uma palavra tens coragem de me dar, nem uma palavra. Que desilusão, mais uma, espero que a tua consciência esteja bem porque a minha está tranquila.
[Mensagem enviado] [Entregue a: Kevin]

Desde então nunca mais falaram, nunca mais disseram nada um ao outro, o contacto morreu sem motivos, simplesmente não dava mais e as coisas terminaram ali, Kevin nunca mais falou com Sara. Quando ela procurava motivos para entender a atitude dele descobria que afinal ele era mesmo um ser raro, dos piores do universo.

Fim




Fotografia: Rodrigo Oliveira !! http://rodso-art.blogspot.com/

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