Estrela Cadente - Prólogo

Onde as estrelas se juntam e dançam eternamente, escolhendo o balanço certo da viagem entre corações celestes e galáxias infinitas. A imaginação é um longo mar e o amor viverá eternamente. Há coisas que não se devem contar e guardar num cofre de segredos que ninguém tenha acesso. Mas há outras que são obrigatórias na nossa vida, são essas que temos de encarar como desafios. Se há desafios difíceis ou cruéis, então estás prestes a sentir a história de um desafio à solidão, ao coração e ao amor.

O “era uma vez” já não existe e situa-se há poucos anos. Vivia os tempos de secundário um jovem nada igual e nada diferente dos outros.
Chama-se Kevin e era um rapaz que tinha o que todos tinham, tudo e nada. Vivia com os pais e frequentava o secundário. Desprovido de preparação para o mundo exterior, enfrentava os momentos com um sorriso tremendo.
Era o seu ano de finalistas e só queria ser feliz. Todos os jovens querem isso e mais, querem viver as coisas da vida depressa demais, sentem os pulmões a apertarem com as emoções que fluem. Sentem que os segundos são maiores que minutos e já não aguentam mais sentados numa cadeira. É inevitável ficar sem fazer nada. Todos querem tudo, nem que seja loucuras estúpidas de uma mentalidade confusa.Só e com um infortúnio no amor, sempre se deu mais aos amigos e sempre se entreteve com experiências cósmicas e informação não linear. Quis ver para além do que os outros viam, queria saber mais. Mas ao mesmo tempo queria ser comum, ter os mesmos gostos, viver as mesmas coisas que os outros. No fundo, ele sabia que tinha tudo isso e era dotado noutras coisas. Só que, faltava sempre uma coisa, sempre faltou. Um amor.
A internet era um mundo sem fim para ele. Travou amizades e conheceu gentes dos quatro cantos deste mundo redondo. Um jovem sábio que descobriu os perigos da internet sozinho e teve cabeça para não se meter em aventuras demasiado complicadas. Se disserem que foi pela educação ou por ser um génio, estão errados. Foi por mero acaso, não calhou. Teve sorte.
A sorte sempre foi sua companheira, mas o amor é alguém tão distante que ele nunca conheceu.
Tentava fazer a sua vida e apaixonava-se a toda a hora. Contudo, o seu coração escolhia sempre quem não gostava dele. E quem o amava, ele afastava da sua vida. Uma total incompreensão de quem semeia o que colhe.
Numa tarde, algures num desses dias do ano, numa estação que já faz parte do passado e ninguém se lembra, conhecia uma rapariga. Uma entre tantas outras que destacara como uma cantora musical. Para ele, a semelhança era a mesma, a Vanessa Hudgens do seu grupo de amigos.
As distâncias sempre foram uma constante. O mundo tornou-se complexo por nada estar em sintonia com ele. Lamentava demasiado o que não tinha, chorava amargurado no seu canto, enquanto estava sozinho. E, no dia seguinte, voltava a sorrir com uma falsidade de quem vive feliz e, no fundo, sofre mais que muitos seres.
No final do liceu teve a oportunidade de a conhecer. E, se tudo corresse bem, poderia estar com ela num futuro próximo. Ele estava a concorrer para a faculdade onde ela morava – Porto.
Nunca pensava demasiado no futuro e isso via nela também. Ambos pensavam no hoje e não ligavam ao futuro. Tinham ideias similares e tinham uma oportunidade que nenhum estava a desperdiçar, apenas estavam à espera do destino para que tudo resultasse.



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Estrela Cadente - Parte 1

Estrela Cadente – A história de um breve sonho

Parte 1

Antes de mais desculpa, tudo aquilo que passamos foi muito lindo e adorei cada momento, tudo o que vivemos é poesia de um sonho que não consigo sonhar, algo que ultrapassa qualquer razão. Contudo, o “nós” jamais existirá. Não há volta possível, nunca te vou amar. Hoje, estas palavras vão-te custar tanto a ti como a mim, vão ser piores que facas afiadas e atiradas por um profissional de circo. Nunca te vou abrir o meu coração porque no fundo sei que não te vou amar, nunca te irei amar e duvido que algum dia ame alguém. Desculpa, mas esquece-me de uma vez por todas e a partir de hoje, faço parte do passado. Adeus.

[Mensagem enviada] [Entregue a: Sara]
Kevin acaba de quebrar todos os códigos pessoais e morais, acaba de violar aquilo que um dia tinha prometido, magoar e ferir o coração de alguém. Acabou por fazer pior, estilhaçar três anos de uma história fantástica.
Os motivos da sua atitude não são perceptíveis mas isto é a realidade de ambos. Esta é a história que começou em 2006.

Kevin recebera a notícia da sua entrada na faculdade, aguardava pela ida para o Porto, queria mesmo entrar em engenharia informática no Porto. Mas, conseguiu apenas entrar em Engenharia electrónica e de computadores. Algo praticamente relacionado, mas descobria em pouco tempo que não era propriamente aquilo que ele queria. Havia uma segunda oportunidade, a segunda fase de candidatura, mas por motivos académicos, até gostou de Coimbra. Sim, Coimbra foi o local que o destino lhe reservou. A cidade dos estudantes acolheu-o dentro de um curso que lhe deu o conforto de ficar um ano lá. Coimbra encheu-lhe a alma apesar das velhas casas e dos locais sinistros fora dos espaços nocturnos estudantis. Celas ficava dentro de Coimbra mas era considerada por muitos uma zona especial, porque fazia parecer que existia ali uma cidade dentro da própria cidade.
O contacto com Sara manteve-se e ela ficou triste por ele não ter entrado no Porto. Ficou a fazer o décimo segundo ano apesar de ter a mesma idade. Estudava para Música e também ela concorria para o Porto esse ano.
Mais uma vez, o destino apenas se intrometia como uma casualidade. O destino de ambos era o Porto, ela ia terminar o ensino obrigatório e ter sucesso às nucleares de acesso e a ele restava-lhe viver um ano em Coimbra e pedir transferência. Durante esse ano, nunca as mensagens por telemóvel foram tão frequentes na sua vida. Kevin contava tudo a Sara e Sara alimentava cada vez mais o sonho de se conhecerem.

“A amizade é simplesmente a amável concordância em todas as questões da vida”
- Marcus Cícero -

Fotografia: Rodrigo Oliveira !! http://rodso-art.blogspot.com/

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Estrela Cadente - Parte 2

Estrela Cadente - A história de um breve sonho

Parte 2

Sete em ponto, estava quase a ficar de noite, já não se via o sol e sentia-se algum frio. Coimbra tornava-se na mágica noite de romance escondendo segredos e Kevin aguardava pelo próximo comboio. Esperava conhecer Sara que lhe tinha prometido viajar até Coimbra, mas ela não apareceu. Era a primeira discussão deles. Ela disse que na última hora surgiram umas complicações e não teve oportunidade de apanhar o comboio. Destronado, Kevin chateou-se com ela e descarregou toda a raiva e frustração de uma vida solitária ao longo destes anos.
No fundo, Sara tinha medo, um sentimento normal que ele não entendia. Sara, como uma rapariga qualquer, mostrava receio de arriscar no desconhecido, viver uma experiência perigosa. Há tanta informação a circular na televisão que já ninguém dorme sem pesadelos. Os filmes aterrorizaram para sempre a juventude daqueles que entram agora na fase de enfrentar a vida. O medo de arriscar estende-se. O medo bloqueia corações.

Passados dois meses voltavam a falar e quando deram conta, estavam perto do Verão. Foi quando depararam que estavam a perder tempo nas suas vidas. A vida que tinha vivido longe dos pais tinha sido fantástica e fez-lhe perceber algumas coisas na vida. O seu corpo também amadureceu e começou a tornar-se num homem. Assim prometera a si mesmo.
Facilmente se perdoaram pelo sucedido no passado e voltaram a marcar novo encontro.
Quase dois anos depois, finalmente se encontravam. Numa casualidade dentro de um centro comercial. Foi estranho no início, conhecerem-se depois de se conhecerem tão bem. Olharem um para o outro e repararem que dentro de cada um eles sabiam tudo, por fora ainda estavam por saber. Naqueles olhares descobriram que se queriam e que podiam sorrir juntos.
As mãos uniram-se e beijaram-se. O primeiro encontro foi demasiado forte para os seus corações e não resistiram. O sorriso que a alma de cada um carrega era uma armadura à tristeza.
Não fizeram planos. Acreditavam no destino e esperavam que as respostas surgissem com o tempo. Ele já não ia a tempo de pedir transferência para o Porto como havia pensado, mas sabia que podia sempre dar um jeito. Coimbra e Porto ficavam a uma hora de distância e nada se podia complicar entre eles. Ela, que era uma aluna impecável tinha grandes notas e como não havia nada dentro da sua área em Coimbra, manteve a ideia inicial de ficar pelo Porto.
Sem planos aguardaram o Verão para que pudessem descobrir do que eram feitos os sonhos. A incerteza do que estavam a viver levava-os a cometer erros que nem jovens apaixonados. Tão normal e natural. Jovens que vivem cegos por uma chama que jamais os guiará pelo mais correcto. Mas quem garante que o mais correcto não é o que se sente dentro do coração?


“É o amor que decide todo o ser humano”
- Jean Massillon -


Fotografia: Rodrigo Oliveira !! http://rodso-art.blogspot.com/

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Estrela Cadente - Parte 3

Estrela Cadente - A história de um breve sonho

Parte 3

- Olá, como estás? – Kevin saudava Sara com um sorriso e um doce beijo acompanhar.
- Estou bem e tu, como estás?
Era rítmico. Todas as vezes que se encontravam passavam por esta espécie de ritual. Nunca conversavam sem antes saber como estava cada um.
- Já saiu a colocação!
- E então?
- Vou para Aveiro…
Olharam-se por um tempo até que Kevin começou a sorrir.
- Nada mal, fica mais perto ainda.
- Vais-me visitar então?
- Claro, e tu sempre que quiseres podes ir lá. Coimbra é uma cidade linda, devias conhecer.
- Aveiro também vai ter a sua beleza.
- Não digo que não, cada local tem a sua beleza não pelo que comporta mas pelo que se constrói e, sobretudo, pelo que lá se vive. Tal e qual os humanos. Há pessoas que podem até não ter importância para nós, mas passam a ter desde que passamos a viver coisas com elas.

Cada momento com Kevin era irradiante. Sentia-se cada vez mais perto do sol, cada vez mais perto de uma luz. Acabava por ser perigoso porque sentia dúvidas em relação a ele. Ele era meigo e muito cuidadoso em relação a ela. Os últimos tempos foram mágicos para Sara apesar da distância. Ele conseguiu quebrar a barreira do medo, da incerteza e do amor. Conseguiu fazer com que ela se apaixonasse por ele e nada mais importava.
Entrava em Aveiro e estava ansiosa pela nova vida. A vida académica que Kevin viveu e partilhou em traços muito vagos. Chegava a Aveiro e cada detalhe era perfeito. O facto de ter praxes e a integração na faculdade lhe roubar bastante tempo e a desgastar fisicamente eram facilmente compreensíveis por ele. Esses são os pequenos gestos que qualquer mulher ama, são os pormenores que não ficam indiferentes a qualquer coração. Ele ouvia sempre que ela precisava e quando ela necessitava de algum espaço para viver toda aquela experiência, ele não se opunha. Será que ele a amava realmente?
Sara começava por se questionar sobre alguns aspectos. Será que ele não tinha ciúmes? Se não tinha, é porque não a amava realmente.
O coração apertava e a cada dia que passava não tinha respostas. Estava cada vez mais complicado lidar com ele sem descobrir essa resposta. Mas como conseguiria se cada vez que estava com ele não conseguia sequer pensar em mais nada.

Kevin, precisamos falar! Quinta-feira posso ir até aí?

[Mensagem enviada][Entregue a:Kevin]

Fotografia: Rodrigo Oliveira !! http://rodso-art.blogspot.com/

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Estrela Cadente - Parte 4

Estrela Cadente - A história de um breve sonho

Parte 4

Chegou o dia. Quinta-feira e lá estava Kevin mais uma vez naquela estação. Desta vez não viu partir nem chegar comboios desenfreados com pessoas de caras desconhecidas. Desta vez ela veio.
Depois do jantar, o ar sério dela preocupou Kevin que lhe perguntou o que se passava.
- Não tenho certeza se me amas.
- Como assim? Fiz alguma coisa errada?
- Não, não fizeste. O problema é esse, não fizeste nada.
- Não estou a perceber. O que queres dizer com isso.
- Tu não me deixas realizada, não me sinto amada contigo, não sinto que sintas o mesmo que eu. Já não sei se é verdade ou mentira, já não sei se ainda se matem as promessas que fizeste e duvido das tuas palavras do passado.
Kevin engoliu em seco e ficou sem saber o que dizer. Por momentos, nem ele sabia a certeza das respostas. Ele era o primeiro a reconhecer isso, também não sabia se estava no caminho certo ou se tudo aquilo era apenas uma ilusão.
- Sabes, às vezes também me pergunto se isto é certo ou errado, às vezes sinto tanto a tua falta que não consigo aguentar parado, mas tem dias que sinto-me bem mesmo sem algo teu.
- Não me amas! – Levanta-se de rompante e vira-lhe as costas.
- Sara… - Segura-lhe o braço e ela vira-se para ele. – Não quer dizer que não goste de ti e que não te possa amar, podemos lutar juntos por isso.
Quase em lágrimas ele chega perto dela e beija-a como da primeira vez. Um leve calafrio percorreu a espinha dela e o calor dos corpos colidiu naquele instante. Esqueceram o mundo à sua volta e os beijos transformaram-se em carícias, roupa no chão, numa cama e dois corpos nus.
Fizeram amor e viveram uma noite mágica, ficaram juntos sem falar, apenas respirando e sentindo a breve sensação de que aquele era um momento perfeito. Tão solene e tão linear. Parecia que os momentos especiais das novelas e dos filmes existiam. Fazia parecer que a ficção também se tornava realidade. Na verdade, é ao contrário, a realidade pode-se tornar ficção mas o que é certo é que cada vez mais se vive a história dos outros.
No dia seguinte ela tinha de voltar. Kevin foi levá-la de volta a Coimbra-B para apanhar o seu comboio para o Porto.
Beijaram-se mais uma vez na despedida e aí apareceu aquele sorriso mágico.
- Prometes que vamos tentar isto juntos, que vamos tentar construir um nós.
- Sara, prometo tentar concertar as coisas e lutar por algo para nós.
Sara nada mais proferiu e seguiu naquele comboio. Kevin estava do lado de fora mesmo junto da janela, ela enviou-lhe um beijo e o comboio partiu.

“Amarmo-nos é lutar constantemente contra milhares de forças ocultas que brotam de nós mesmos ou do mundo”
- Jean Anouilh -

Fotografia: Rodrigo Oliveira !! http://rodso-art.blogspot.com/

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Estrela Cadente - Parte 5

Estrela Cadente - A história de um breve sonho

Parte 5

Sabes, tenho as minhas dúvidas, acho que devemos dar um tempo.
[Mensagem enviada] [Entregue a: Sara]
Porque dizes isso?
[Mensagem enviado] [Entregue a: Kevin]
Acho que é o mais certo por agora. Tenho conhecido várias pessoas e acho que me apaixonei, não sei, sinto-me confuso, preciso de um tempo.
[Mensagem enviada] [Entregue a: Sara]
Está bem, eu pedi-te para teres cuidado comigo e disse-te que tinha sofrido, pensas que sou alguma boneca e não tenho sentimentos? Estás a ser muito egoísta mas se é isso que queres tudo bem, terás o teu espaço. Mas nunca esperei isso de ti, afinal, és como os outros.
[Mensagem enviado] [Entregue a: Kevin]
Não digas isso de mim, tu não me conheces. Eu sou diferente. E não te traí ou coisa do género, simplesmente te contei a verdade e disse o que estava a sentir. Antes que cometesse algum erro, preferi contar-te as coisas.
[Mensagem enviada] [Entregue a: Sara]
Não traíste mas magoaste-me. E quem cometeu um erro não foste tu, fui eu. Pensei que ia ser diferente contigo e afinal enganei-me. Pensei que tu eras especial e no fundo, és como os outros, completa besta. Espero que sejas muito feliz.
[Mensagem enviado] [Entregue a: Kevin]

Estávamos na primavera de 2008 e Kevin tinha sido cruel. Nessa noite Sara derramou lágrimas de sangue, chorou até sentir os olhos tão quentes e salgados que lhe corroíam a alma, o corpo e a alegria. Antes de conhecer Kevin tinha deixado uma relação recente. Tinha sido enganada pelo ex-namorado e isso tinha feito dela um pedaço de princesa fechado numa concha com medo do mundo lá fora.
O medo extinguiu-se com Kevin e confiara nele. Tal como ele acreditava e fazia acreditar, ela pensava que ele era diferente dos outros, que não era um homem comum e perfeito. Enganou-se e neste momento voltava a acreditar que, tudo que viveram, tinha sido uma perfeita mentira. Afinal as suas desconfianças não eram falsas. Tinha sentido o que estava certo. Nos dias em que o sentia distante e frio ele dizia que era cansaço e apenas coisas fora do coração. Coisas que não eram culpa de Sara.
Kevin queria viver o seu sonho e escolhera viver com quem estava na cidade onde se encontrava. Afinal, fazia diferença a distância. Afinal, fizera diferença cada momento perdido por estarem longe um do outro. Viver longe de quem se ama pode ser duro, mas duro é destruir o coração de uma donzela que tanto o amava.
Kevin fez a sua escolha e ela jurava nunca mais se deixar ser magoada daquela forma.

“Entre os seres humanos, mesmo se intimamente unidos, permanece sempre aberto um abismo que apenas o amor pode superar, e mesmo assim somente como uma passagem de emergência”
- Hermann Hesse -

Fotografia: Rodrigo Oliveira !! http://rodso-art.blogspot.com/


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Estrela Cadente - Parte 6

Estrela Cadente - A história de um breve sonho

Parte 6

- Olá, obrigado por te vires encontrar comigo!
- Espero não me arrepender disto.
- Como foi o teu verão Sara?
- Foi bom e o teu?
- Maravilhoso, estive fora e talvez vá para lá viver.- Como? – Sara fitava Kevin com uma cara de quem não estava a acreditar no que acabara de ouvir.
- É isso que acabaste de ouvir. Desde agora, tenho apenas mais dois anos e depois vou tratar da papelada e mudar-me para os Estados Unidos da América.
- Porquê essa decisão?
- Eu sei que pode ter sido fogo de umas férias, fogo de uma boa vida que se tem quando se vai para fora como eu fui. Mas, mal por mal prefiro lá. Têm impostos, têm coisas que podem ser diferentes deste nosso país, mas tem o mesmo preço das coisas e ganham muito mais. É tudo muito mais fácil quando temos ajuda nisso e eu tenho.- Então estás mesmo decidido, não há volta a dar! Ou há?
- Não. Vou viver estes dois últimos anos aqui com quem amo e depois parto.
- Estou a ver.
- Gostava que fizesses parte desses anos.
Um ligeiro silêncio abalou a sala e nada mais os tocou. O mundo acabou de desaparecer e nada se ouvia senão dois corações acelerados e confusos.- Não sei que te possa dizer, não sei mesmo. Magoaste-me imenso e não sei se te posso perdoar.
- Eu sei, e quero corrigir isso. Sabes, uma das coisas que senti falta foi do teu sorriso, do teu abraço, do teu cheiro. Apesar de estar a viver todas aquelas grandezas e todas aquelas coisas, faltou sempre um pedaço teu, porque no fundo, possuo restos teus no meu organismo, parte de quem és vive no meu sangue.


Depois de um Verão intenso Kevin que reaver o tempo perdido. Mas queria sobretudo viver a vida. Nesse ano, não ligou a mais nada senão à alegria que a vida lhe poderia dar. Contudo, continuava a não amar Sara. O seu coração permanecia intacto e aquele homem especial acabara de se perder no passado. Aquele rapaz que jurava amar e amor por alguém morrera.
Esta foi a data em que um pobre amargurado pelo passado não conseguindo amar decide viver tudo ao limite.
Regressa a Coimbra e desfruta de cada noite. Cerveja após cerveja, sorriso após sorriso, não tarde até acordar ao lado de rosto nada familiares, gente desconhecida que nem o nome se lembrava. Não esperara a resposta de ninguém. Vivia os segundos da vida.
Experimentou drogas leves, fumava, bebia e, no final da noite, entregava-se a uma mulher.
Certo dia, descobriu uma certa rapariga que o confundiu imenso. Alguém que se divertira tanto quanto ele mas não fora pessoa para ir para a cama com ele. Não era uma questão de sexo, era mais que isso.
Nessa noite, a miúda que chorava nos seus braços chamava-se Joana e ele sabia o nome dela, sabia o seu passado, numa só noite, sabia mais da história dela do que quase da sua própria história. Kevin apaixonou-se e entregou-se a um novo amor.

[1Mensagem Nova]
Sabes, tenho pensado e, depois de tudo, ainda gosto de ti. Sinto que foi especial, tudo aquilo que vivi contigo. Sinto que tudo o que houve entre nós foi…inexplicável. Tenho receio dessa tua decisão, mas por outro lado, estou confusa. Não sei se será melhor ficar por aqui ou se deva arriscar e viver os melhores anos da minha vida. Quero que saibas apenas que ainda te amo.

Kevin leu a mensagem, pousou o telemóvel e abraçou Joana, já dormia e a noite terminou ali.

“O amor só encontra o seu significado no momento da separação”
- G. Bona -


Fotografia: Rodrigo Oliveira !! http://rodso-art.blogspot.com/

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Estrela Cadente - Parte 7

Estrela Cadente - A história de um breve sonho

Parte 7

- O que é que tens?
- Nada Joana, porquê?
- Posso-te não conhecer o suficiente mas dá para perceber que se passa algo.
- Vocês e o vosso sexto sentido.
- Resulta…
Kevin sorri e começa a contar-lhe toda a história que viveu com Sara. Cada traço, cada momento. Kevin sabia como ser especial, como detalhar cada pormenor, cada parte daquela aventura. Era verdadeiro e acabava por abrir os seus sentimentos quando falava profundamente neles. Podia não saber amar, mas ao menos sabia o que vivera.
- Bem, tens aí uma história e tanto. Parece-me que ainda gostas dela.
- Não, eu gosto de ti!
- Não! – Surpreendentemente com um sorriso. Kevin confuso fita Joana. – Pensas que gostas de mim, mas tudo isto não passa de uma aventura. – Estupefacto Kevin não queria acreditar. – Não me olhes assim, é verdade. Achas que tivemos tempo para que hoje tanto eu como tu nos amassemos? Não dá. Isto faz parte de uma vida Universitária que devemos aproveitar, depois disto, não temos tanta sorte.
- Ao menos não te magoei.
- Isso foi porque eu não deixei. E esse é o teu problema. Tens medo que te magoem, tens medo de viver e deixar que o amor tome conta de ti. É por isso que não abres o teu coração. Ela saiu magoada porque abriu o dela, porque arriscou e deu-te uma oportunidade. Tu desperdiçaste. Mesmo que tentes de novo, ela pode não te dar uma segunda oportunidade.
- Por mais que custe essa é a verdade, por mais que me doa, sei que tens razão. Mas é difícil eu deixar que alguém entre no meu coração.
- Isso só depende de ti. Não vou ser eu que te vou dizer como deves fazê-lo muito menos eu que deve trabalhar para isso. É a tua felicidade que está em jogo, se queres ser feliz, só depende de ti.
- Como te vou poder agradecer por tudo isto?
- Simples, basta seres meu amigo e lutares por ser feliz. Quero que cuides de ti e faças deste jovem rapaz um homem melhor.
Estas palavras ficaram retidas no coração de Kevin. Joana, tinha sido apenas a história de uma noite, mas tornou-se mais que isso. Ela passou a ser a consciência de uma confusão mental que habitava dentro de Kevin. Por vezes, as pessoas precisam que alguém lhes mostre o caminho, que lhes mostre a verdade e as faça encarar os seus feitos.
Joana desde então falava todos os dias com Kevin, como amiga tentava dar-lhe os melhores conselhos. Neste momento, o que mais queria era ver o seu amigo feliz. Ele, por sua vez, queria recuperar o que perdera com a Sara. Era uma tarefa difícil mas jamais impossível.
Como é que ele iria falar com ela e lidar novamente com ela. Sara estava muito chateada com ele e não lhe atendia as chamadas nem respondia a nada que ele enviasse. As mensagens de telefone eram prontamente apagadas e esquecidas.
Kevin sentia o coração corroer sem o perdão de Sara e só lhe restava uma hipótese, ir até Aveiro, encontrar-se com ela e pessoalmente tentar resolver as coisas. Por mais erros que se possa cometer nesta vida, nunca é tarde demais para os assumirmos.

“Ninguém sente em si o peso do amor que se inspira e não comparte. Nas máximas aflições, nas derradeiras do coração e da vida, é grato sentir-se amado quem já não pode achar no amor diversão das penas, nem soldar o último fio que se está partindo. Orgulho ou insaciabilidade do coração humano, seja o que for, no amor que nos dão é que nós graduamos o que valemos em nossa consciência”
- Camilo Castelo Branco -

Fotografia: Rodrigo Oliveira !! http://rodso-art.blogspot.com/

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Estrela Cadente - Parte 8

Estrela Cadente - A história de um breve sonho

Parte 8

- O que estás aqui a fazer?
Eram seis da tarde e Kevin estava à porta de Sara, aguardando que ela chegasse da Faculdade. Sabia o seu horário e tinha apanhado o comboio porque era a única maneira de lhe pedir desculpa.
- Achas que isso apaga o que tu fizeste?
- Não, eu sei que não apaga. Mas quero recuperar o que perdi, quero recuperar o tempo que gastei com estupidez de uma pessoa que não percebe a justeza do mundo.
- Não sei se te consigo perdoar…
- Estás no teu direito. Dá tempo ao tempo. Vou fazer para que tudo consiga ser como antes.
- Nada é como antes!
- Calma, vamos com calma. Um passo de cada vez. Tudo se vai ajustar, eu tinha de te vir pedir perdão.
- Queres ficar para Jantar?
Kevin aceitou o convite e passou uma noite muito alegre. Em torno de anedotas e histórias que partilhava com Sara, algumas ela já conhecia, mas partilhava com as amigas dela que tinham ficado para jantar. Era divertido ver aquele rapaz com muito à vontade e sem preconceito, ele não classificava nada nem ninguém, não fazia juízos descuidados e muito menos se notavam pensamentos de superioridade. Era um simples e humilde jovem que adorava partilhar traços da vida com os outros.
Sara amava isso nele e no seu silêncio olhava cada gesto, sentia cada palavra. Aqueles lábios molhados com um pouco mais de cerveja, aquele sorriso verdadeiro de quem ama o que vive e vive o que gosta. As mãos dele…as mãos.

- Sabes o que gosto em ti, Kevin?
- Gostava de saber…
- Gosto das tuas mãos, firmes e quando tocam o meu corpo tem um sentimento especial, gosto dos teus braços porque me sinto segura neles, dá-me vontade de ficar encostada no teu peito a ser abraçada por ti. Adoro os teus lábios e os teus beijos. E, claro, essa coisinha que tu tens e me faz muito feliz, me dá muito prazer e me satisfaz como mulher.
- Não sabia que tinha assim tanto impacto!
- Oh! Adoro-te sabes.

- Não é Sara?
- Hum! Deve ser…
Kevin riu-se e desviou a atenção dela, desviou a conversa e percebeu que ela estava perdida no seu mundo. Dera por si a recordar momentos especiais com ele. Momentos que adorava ter depois de fazer amor. Odiava fazer amor e depois cada um virar-se para seu lado. Gostava de falar e depois daquele momento era quando tinha o coração totalmente aberto a tudo. Não havia barreiras, não havia protecções. O mundo fica lá fora e dentro daquele quarto tudo é seguro e tudo é possível, sentia-se tão segura que o facto de estar nua não lhe causava problema. Estar nua ali naquele quarto era como estar vestida e agasalhada num outro lugar qualquer lá fora na rua. Ali estava ela a lembrar das palavras bonitas de Kevin, as palavras mágicas que ele tinha e com elas vinham as dúvidas dela. Será que as palavras não passam disso? Serão apenas palavras? Haverá verdade nelas? Será que ele não cria o tal mundo bonito para agradar quem ele quer?
Certo é que Kevin já se zangara uma vez com ela por essa razão. O facto de ela não acreditar na verdade dele e nas palavras dele fê-lo ficar furioso. Não admite que alguém especial diga uma coisa dessas dele.

- Tu não me conheces. Pensas que sou como os outros mas é tudo diferente. Eu não sou comum.

Ela retia cada pedaço dele dentro de si. Eram recordações a mais. Viveu com ele mais do que qualquer outra pessoa e aí estava outro factor decisivo. Ele era pessoa que vivia tudo, o mais rápido possível e quando se pensasse que já se tinha visto tudo e vivido tudo, ele aparecia com algo novo. Havia sempre qualquer coisa que a sua cabeça magicava. Parece que guardava segredos e camuflava num baú surpresas para ir desvendando a cada passo.

- Obrigado pelo jantar, acho que são horas de ir.
- Não, quero que fiques.
- Tens a certeza? Não te quero magoar… - Sem o deixar terminar Sara interrompe.
- Fica!
Pondo-lhe uma mão nos lábios para ele não falar o “fica” dela entoou como um eco pela cozinha onde já se encontravam sozinhos. No silêncio de um longo olhar ela beija-o e volta a pedir-lhe.
- Fica.
Ele aceita, e nessa noite eles dormiram juntos mas não fizeram amor. Kevin aceitava bem o facto de não a querer pressionar, lidava bem com o facto de por vezes ter de esperar e aguardar que certas coisas acontecessem apenas na altura certa.

“O amor é fé e não ciência”
- Francisco Quevedo -


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Estrela Cadente - Parte 9

Estrela Cadente - A história de um breve sonho

Parte 9

- Malta, esta é a Sara…a minha namorada!
A notícia surpreendeu todos lá em casa. É certo que cada um vivia a sua vida mas sabiam todos uns dos outros. Era parte de morar numa casa de rapazes, há coisas que se partilham e eles viviam muita coisa juntos. As saídas nocturnas eram dos momentos que mais gostavam de viver. Daí ter conhecimento da Joana, que de certa forma, foram eles que apresentaram ao Kevin e ela já era amiga deles há mais tempo.
- Olá! – Sara meio envergonhada ia cumprimentando cada um deles.
- Este é o Marco, o Hélder, Júlio e o Daniel. Se não te lembrares de algum dos nomes não faz mal, é normal.
- Olha, nós ‘tavamos a pensar em ir ao Bowling no Fórum, vocês querem vir? – Era o convite do Daniel assim repentino.
- Que achas Sara?
- Por mim, tudo bem.

Depois de estar tudo pronto, seguiram para o Bowling e tiveram uma noite divertida. Kevin e Sara tiveram os seus momentos de ternura e os olhos de ambos entrecruzavam-se proferindo palavras proibidas. Palavras de desejo.
Para o dia seguinte tinham combinado ir até Praia de Mira. Passar um pouco do dia e depois seguirem até Aveiro. Estávamos na altura da Feira de Março e como a Sara estudava lá, até calhava bem que eles ficavam lá depois. Nada premeditado, meras casualidades que irrompem no destino.
No dia seguinte estavam prontos e sorridentes. Seguiram viagem sem o Hélder que não os pôde acompanhar. Na viagem, enquanto os outros três falavam entre si, Sara e Kevin cochichavam coisas, só os dois. Trocavam impressões e ideias num mundo à parte. Parece que não estava mais ninguém naquele carro, eram só eles.
Os sorrisos espalhavam-se e cada vez mais se tornava especial. Cada momento e cada segundo. Era parte de uma história que não se podia escrever.
Assim que chegaram, invadiram o areal. Kevin e Sara sempre mais distantes do resto do grupo, sempre com a sua cumplicidade, viviam no seu mundo e estavam ali a amar-se.
Depois de Mira, o destino era Aveiro e a Feira de Março. Muita gente, muito por onde passear, exposições e diversões. Foi no meio da multidão que Sara reencontra alguns amigos de Aveiro e bom, como tudo deve ser feito de momentos partilhados, Kevin deixa os seus amigos e fica agora com o grupo de Sara. Isola-se um pouco por não conhecer ninguém e não estar a par das conversas deles.
Assim que terminaram a visita na Feira, decidiram ir à escola. Apenas para lhe mostrar a Kevin onde ela estava a estudar e onde passava grande parte do seu tempo. Ali lhe mostrava a razão que a impedia de ir mais vezes a Coimbra.
- Este é o anfiteatro onde organizamos os melhores concertos. Aqui é onde tudo acontece.
- Parece-me confortável, deve ser mágico estar no palco com o calor do público, não?
- É muito arrepiante, mas ao mesmo tempo, vivemos disso, precisamos disso.
- Aquilo é um Piano? – Questiona Kevin apontando na direcção do palco.
- Sim, é onde ensaiamos a voz e fazemos testes.
Kevin esquece o que ela diz e deixa-a ficar para trás, segue na direcção do Piano e senta-se, começa a olhar para ele e de repente sorri. Olha para ela e esboça mais um sorriso, arregaça as mangas e começar a tocar. Uma melodia de Yann Tiersen, oito milímetros.
Sara fica boquiaberta e só após algum tempo se dirige para o pé dele. Cantarolando apesar de a música não ter voz.
- Porque é que nunca me contaste que sabias tocar?
- Não sei, é uma liberdade minha, algo meu, penso ser um pouco egoísta e pensar que tenho direito a um pedaço que não é de mais ninguém.
- Mas…onde é que aprendeste?
- Há uns anos, fui convidado para entrar numa escola de música, seguir algo relacionado com a área mas não aceitei. Queria era viver e não seguir pautas estúpidas com pintas pretas que me causam raiva. Não gosto que me entreguem linhas por onde tenha de seguir, prefiro coisas que tenham mais liberdade. É por isso que apenas toca para mim, por liberdade, porque me faz sentir bem, sem saber pautas ou escalas.
Sara nem queria acreditar, aquilo era mágico, tremendamente especial. Não podia ser verdade.
- Escuta, tu mereces isto. Esta vai ser a música que te vou dedicar.



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Estrela Cadente - Parte 10

Estrela Cadente - A história de um breve sonho

Parte 10

- É tão bonito isto aqui!
Sara estava fascinada com a ponte “Pedro e Inês” de Coimbra. No silêncio da noite, era o lugar mágico para se estar. Mesmo no meio da ponte, vendo as luzes reflectidas no Mondego, a cidade que não pára e os estudantes que não se cansam de viver. A Cabra lá no alto bem iluminada todas as noites figura a imagem de um mocho, um mocho de um sorriso eterno para qualquer estudante que lá passa.
Uma imagem tão bela que não há quem não tenha olhos brilhantes diante daquele quadro. Não há fotografia ou vídeo que consiga reter aquela imensidão. Sara percebia isso e deitava-se no chão ao lado de Kevin.
- Costumas vir aqui muitas vezes?
- Algumas, é um lugar especial para mim. – Respondeu Kevin relaxado mirando as estrelas.
- É perfeito. Aqui o mundo é teu, meu…bom, é nosso.
Kevin sorri e inclina a cabeça para lhe encontrar os olhos.- Sim, é nosso!
Ela beija-o e sorri também.
- Certo dia, alguém me disse que os antepassados vivem lá em cima. – Kevin parecia nostálgico e Sara não o quis interromper, ficou apenas à escuta. – Um dia, percebi que as estrelas são como as pessoas. Há umas que brilham mais que outras, umas que são mais tímidas mas com o tempo lá as vemos, umas maiores que outras. Há de tudo. Agora vês poucas, daqui a um tempo, vais descobrir mais e mais. Depois, vais sorrir porque nós somos assim também, uns mais retraídos que outros. Mas se vires, o céu é bonito com todas as estrelas. Tal como a nossa humanidade, somos todos importantes de qualquer forma. Se nos faltar o sol, os planetas do sistema solar vão morrer, o mesmo acontece se faltar alguma estrela. Vai sempre fazer falta para alguém.
Nesse instante, ambos visualizam uma estrela cadente e pedem um desejo. Riem-se e voltam a beijar-se
- Então se tudo é importante nas nossas vidas, explica-me Kevin, porque há pessoas que nos magoam?
- A menos que tenham intenção, elas não fazem por mal. Às vezes acontece, um ser humano erra e isso, pagamos um preço muito alto por o vivermos.
- Um dia gostei de alguém, mas esse alguém traiu a minha confiança, brincou com os meus sentimentos. Isso faz-me ter medo das coisas. Medo que façam de mim uma boneca de trapos. Que me usem e se aproveitem de mim apenas.
- Mas se tiveres medo disso, como vais ser feliz? Se te fechares dentro da tua concha não vai ser fácil viveres coisas boas também. Ser feliz é um risco, podemos ter sorte ou azar.
Sara acabava de amar as suas palavras. A simplicidade com que ele tornava o mundo parecia-lhe mais que mágico.

Mais tarde regressavam a casa, estavam sozinhos e tinham a casa só para eles. Uma das rotinas de Kevin era quebrar o silêncio com música. Nunca estava sossegado sem música. Amava a música pelos sentimentos que lhe dava, ouvia de tudo e para cada momento tinha um estilo. Cada estilo transmitia-lhe um certo estado de espírito e isso ajudava-o a viver melhor.Escolhia Mindy Smith dentro do seu repertório. “One Moment More” começava a tocar e os olhos de Sara começavam a brilhar.
- Tu és um anjo!
- Eu sei! – Respondia Kevin com um sorriso. – Queres dançar?
Sara aceitava de pronto e os dois num ritmo lento começavam a dançar. De olhos fechados e com os corpos juntos. Ouviam apenas a música e sentiam o respirar perto um do outro. Sentiam os corpos colados repelindo os mais profundos sentimentos.
Começaram a beijar-se e isso transformou-se em quedas de roupa. O prazer que os envolvia fazia-os esquecer de todos os problemas do passado. Os medos de outrora eram agora quebrados por promessas de alegria, felicidade e amor.Os corpos uniam-se mutuamente não apenas num acto sexual, mas num ritmo amoroso e melódico. Faziam uma música que jamais poderiam tocar, um trecho que ninguém poderia repetir porque tudo aquilo só teria sentido naquele momento.
Depois de fazerem amor, ficaram juntos conversando um pouco. Sara estava com a cabeça no peito de Kevin e ele abraçava-a segurando-a para não a perder.
- Prometes o sempre?
- Prometo-te o agora, amanhã nunca se sabe.
- Porque não me abres o teu coração?
- Tu sabes, é difícil quando temos medo. Eu sei que tu mereces mais, eu sei que não tenho motivos para ter medo. Mas, simplesmente, não consigo.
- Seria quase perfeito se me amasses…O silêncio abateu-se entre os dois. Gostavam um do outro, mas Sara queria mais, ela começava a exigir o que lhe pertencia. Ele sabia que ela tinha esse direito e tentava, lutava por isso, mas não conseguia. O dilema que abatera sobre os dois era tremendamente forte e implacável.


No dia seguinte, Kevin acorda e encontra a almofada ao lado vazia. Sobre ela um pedaço de papel. Sara tinha-se ido embora sem avisar. Pega nele e lê:

O tic-tac de um relógio faz o tempo afastar-me de ti e ganhar medos, de varias cores e feitios. Medo de poder ser um erro, medo de ficar sem aquilo que não tenho. Medo de te amar.
Saio e deixo-te só, na verdade queria ficar, queria poder adormecer contigo, ver-te descansar numa eterna paz que orgulhasse os meus olhos.
Obrigas-me a recuar quando dou passos de que não tenho a certeza. Vivo num mundo que não conheço e não sei o que vai acontecer a seguir mas adorava saber.
Mas sabes o que e que me causa mais calafrios ao meu coração?
É o facto de pensar na resposta provável que vou ouvir, naquela resposta
que tantas vezes ouvi.
Se a ouvir mais uma vez não sei o que vai ser de mim.
Apenas queria que me amasses.
Só isso.



Fotografia: Rodrigo Oliveira !! http://rodso-art.blogspot.com/

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Estrela Cadente - Parte 11


Estrela Cadente - A história de um breve sonho

Parte 11

Antes de mais desculpa, tudo aquilo que passamos foi muito lindo e adorei cada momento, tudo o que vivemos é poesia de um sonho que não consigo sonhar, algo que ultrapassa qualquer razão. Contudo, o “nós” jamais existirá. Não há volta possível, nunca te vou amar. Hoje, estas palavras vão-te custar tanto a ti como a mim, vão ser piores que facas afiadas e atiradas por um profissional de circo. Nunca te vou abrir o meu coração porque no fundo sei que não te vou amar, nunca te irei amar e duvido que algum dia ame alguém. Desculpa, mas esquece-me de uma vez por todas e a partir de hoje, faço parte do passado. Adeus.

[Mensagem enviada] [Entregue a: Sara]Kevin acaba de quebrar todos os códigos pessoais e morais, acaba de violar aquilo que um dia tinha prometido, magoar e ferir o coração de alguém. Acabou por fazer pior, estilhaçar três anos de uma história fantástica.
O que se repete desde o início é o facto de a dúvida que assola ambos os corações não pernoitar noutras paragens. Dorme com eles e a cada passo os consome mais.
Desde que ela se foi e apenas lhe deixou aquele bilhete pouco falaram. Tentaram entender o que fora aquilo e o que viveram. Perceber o que sentiam e se realmente se amavam. No caso de Kevin, se era capaz de amar.Contudo, apesar de ela sentir um aperto tão forte e nutrir um sentimento tão profundo por ele, envia-lhe mensagens que ele respondia um pouco de longe. Ela sentia-o distante e frio. Ele jamais conseguira lidar com a distância. Não é que não pudesse fazer nada, mas atormentava-se por não ter vontade em fazer alguma coisa.
A vontade que tinha em estar com ela era apenas carnal, apenas material. Já não havia aquele mundo belo e bonito, já não existiam príncipes nem princesas. Os mundos modernos cheios de confusões, carros e prédios viviam no coração daquele pobre rapaz que vivia mais perdido que um louco em busca de água nalgum deserto.Certo dia, entendeu que bastava. Não para ele, mas odiava o que estava a fazer. Sara não merecia toda aquela impaciência, todas as suas incertezas. Em suma, ela não o merecia. Entendendo isso ele enviou-lhe a mensagem mais cruel que se pode enviar a quem quer que seja. Ao menos foi franco e sincero. Ao menos encarou a realidade e preferiu não magoar mais. Iria magoar ao dizer tudo aquilo, mas sabia que um dia tudo iria ficar bem, como duas pessoas que viveram alegrias e as colocaram no passado.
Queria-se superar das suas emoções e queria ajudar Sara a encontrar um novo caminho também. Mas, pelo menos isso não lhe era permitido, não agora.
Discutiram e, no fim de tudo, ela acabou por aceitar.

A história acabava mesmo ali, a história terminava após anos de persistência e de fé. A fé que ela tinha morreu aos poucos, a fé que ela tinha em pensar que existiam pessoas diferentes morreu quando ele destruía o que restava do seu coração.
Nessa noite a lua chorou mágoas e entranhas. Nessa noite a raiva, a angústia e o ódio foram maiores que o terrorismo no mundo. Nessa noite ela jurava que nunca mais, mas nunca mais iria abrir o coração a ninguém tão facilmente.

“São tão imensamente grandes, tão paradoxalmente violentos certos amores, que atingem a expressão terrível do ódio.”
- Júlio Dantas –


Fotografia: Rodrigo Oliveira !! http://rodso-art.blogspot.com/

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Estrela Cadente - Parte 12

Estrela Cadente - A história de um breve sonho

Parte 12

- Porque é que fazes ser tudo tão complicado? Porque não assumes as coisas como naturais e simples? Porque não decides o que queres de mim?

Isto era o que Sara mais lhe queria dizer, era o que mais queria dizer a tanta incoerência de Kevin. Ele tirava-a do sério. Não lhe dava certezas e deixava num meio-tom sem cor e sem palavras. Dava-lhe e tirava-lhe ao mesmo tempo. Ilusões, pedaços e momentos.
O tempo ia passando e jamais se falavam. Não percebi ainda nada e tanto queria voltar para os braços dele como ao mesmo tempo queria esquecê-lo. Era um dilema cheio de complexidades e equações bem difíceis. Mas, foi esse mesmo tempo que ajudou até então. Curou feridas, gerou belos momentos e deu-lhe a resposta do futuro. Um futuro em que ele não a via lá, não era ela que iria estar lá. Se ele tinha tanta certeza disso, então iria pagar pelos seus actos. Iria colher o que plantou, iria ter aquilo que cativou.
Por mais duro que fosse, ela resistia. Mesmo em dia de fraqueza de Kevin, ela dizia que havia o pacto, a promessa. E assim foram conseguindo construir uma barreira entre os dois. Um muro que se solidificava com o secar do cimento entre blocos sólidos. Um muro tão poderoso como o de Berlim, que separava não só uma cidade, mas dois países. Tão denso e seguro que resguardava toda a privacidade de cada lado.
Reza a história que até Golias tinha pontos fracos e os gigantes também caem. Gigantes de pedra nunca foram tão sólidos como os pintam em histórias e romances de caducos escritores.
Essa barreira era construída pelos dois e sem se aperceberem, construíram um portão para que pudessem passar facilmente quando quisessem. Um portão que se podia tornar perigoso a qualquer momento.

Um dia, Kevin recebia uma mensagem.
- Precisava de ti neste momento!
Sara tinha-lhe enviado isso de manhã quando ele dormia. Por sinal tinha acordado com o calor do verão, já não dormia sossegado por isso e sem pensar duas vezes, arrumou algumas coisas na mochila e deixou de parte o estudo desse dia. “Pascal”, “Python” e “C” não eram mais importantes, não tão importantes quanto aquela mensagem estava a ser para ele naquele momento.
Descera Celas a correr, passando pela Praça da República, disparado que nem uma flecha pela Sá da Bandeira, atravessa a baixa até chegar à Estação de Comboios de Coimbra.
- Quero um bilhete para Aveiro, se faz favor!
- Despache-se que está para sair.
- Muito obrigado.
Toda aquela correria estava a ser impensada, estava a ser puramente irracional. Dentro do comboio apercebe-se onde está e o pensamento perde-se pelos dias que antecederam aquela mensagem.
Ele tinha consciência que sentia falta dela, e de alguma maneira essa falta fazia com que estivesse vulnerável. Mas era demasiado egoísta para pensar nos outros, era só ele, sempre ele.
Essa falta transformava-se em carinho e persistência, sabia que com o tempo conseguia penetrar aquele coração apertado que nunca se iria fechar para ele. Era terrível saber disso por ter a noção que ela o amava.
Num misto de ansiedade e receio, alegria e preocupação a viagem foi mais curta do que o normal. Ele nem tinha dado conta de nada. Estava com o sangue a circular a uma velocidade estonteante.
Sara olha o telemóvel e vê a fotografia de Kevin. Estava a ligar-lhe. Era estranho, era cedo ainda, que seria?
- Sim.
- Olá Sara, olha fiquei preocupado com a mensagem, que se passa?
- Oh, nada, deixa lá.
- Mesmo que esteja à tua porta?
- Não estás nada. - Disse levantando-se e abrindo a porta. Lá estava Kevin com o seu sorriso de atrevido e como quem acabava de pregar uma partida.
- Que estás aqui a fazer?
- Não disseste que precisavas de mim? Aqui estou eu.
Entrou e sentaram-se na cama do quarto. Sara não queria acreditar, tinha enviado a mensagem à pouco mais de duas horas e, agora, ele estava ali. Simplesmente estava lá.
- E então, queres contar-me o que se passou?

“O Amor é a mais nobre fraqueza do espírito”
- John Dryden –

Fotografia: Rodrigo Oliveira !! http://rodso-art.blogspot.com/

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