Estrela Cadente - Parte 8

Estrela Cadente - A história de um breve sonho

Parte 8

- O que estás aqui a fazer?
Eram seis da tarde e Kevin estava à porta de Sara, aguardando que ela chegasse da Faculdade. Sabia o seu horário e tinha apanhado o comboio porque era a única maneira de lhe pedir desculpa.
- Achas que isso apaga o que tu fizeste?
- Não, eu sei que não apaga. Mas quero recuperar o que perdi, quero recuperar o tempo que gastei com estupidez de uma pessoa que não percebe a justeza do mundo.
- Não sei se te consigo perdoar…
- Estás no teu direito. Dá tempo ao tempo. Vou fazer para que tudo consiga ser como antes.
- Nada é como antes!
- Calma, vamos com calma. Um passo de cada vez. Tudo se vai ajustar, eu tinha de te vir pedir perdão.
- Queres ficar para Jantar?
Kevin aceitou o convite e passou uma noite muito alegre. Em torno de anedotas e histórias que partilhava com Sara, algumas ela já conhecia, mas partilhava com as amigas dela que tinham ficado para jantar. Era divertido ver aquele rapaz com muito à vontade e sem preconceito, ele não classificava nada nem ninguém, não fazia juízos descuidados e muito menos se notavam pensamentos de superioridade. Era um simples e humilde jovem que adorava partilhar traços da vida com os outros.
Sara amava isso nele e no seu silêncio olhava cada gesto, sentia cada palavra. Aqueles lábios molhados com um pouco mais de cerveja, aquele sorriso verdadeiro de quem ama o que vive e vive o que gosta. As mãos dele…as mãos.

- Sabes o que gosto em ti, Kevin?
- Gostava de saber…
- Gosto das tuas mãos, firmes e quando tocam o meu corpo tem um sentimento especial, gosto dos teus braços porque me sinto segura neles, dá-me vontade de ficar encostada no teu peito a ser abraçada por ti. Adoro os teus lábios e os teus beijos. E, claro, essa coisinha que tu tens e me faz muito feliz, me dá muito prazer e me satisfaz como mulher.
- Não sabia que tinha assim tanto impacto!
- Oh! Adoro-te sabes.

- Não é Sara?
- Hum! Deve ser…
Kevin riu-se e desviou a atenção dela, desviou a conversa e percebeu que ela estava perdida no seu mundo. Dera por si a recordar momentos especiais com ele. Momentos que adorava ter depois de fazer amor. Odiava fazer amor e depois cada um virar-se para seu lado. Gostava de falar e depois daquele momento era quando tinha o coração totalmente aberto a tudo. Não havia barreiras, não havia protecções. O mundo fica lá fora e dentro daquele quarto tudo é seguro e tudo é possível, sentia-se tão segura que o facto de estar nua não lhe causava problema. Estar nua ali naquele quarto era como estar vestida e agasalhada num outro lugar qualquer lá fora na rua. Ali estava ela a lembrar das palavras bonitas de Kevin, as palavras mágicas que ele tinha e com elas vinham as dúvidas dela. Será que as palavras não passam disso? Serão apenas palavras? Haverá verdade nelas? Será que ele não cria o tal mundo bonito para agradar quem ele quer?
Certo é que Kevin já se zangara uma vez com ela por essa razão. O facto de ela não acreditar na verdade dele e nas palavras dele fê-lo ficar furioso. Não admite que alguém especial diga uma coisa dessas dele.

- Tu não me conheces. Pensas que sou como os outros mas é tudo diferente. Eu não sou comum.

Ela retia cada pedaço dele dentro de si. Eram recordações a mais. Viveu com ele mais do que qualquer outra pessoa e aí estava outro factor decisivo. Ele era pessoa que vivia tudo, o mais rápido possível e quando se pensasse que já se tinha visto tudo e vivido tudo, ele aparecia com algo novo. Havia sempre qualquer coisa que a sua cabeça magicava. Parece que guardava segredos e camuflava num baú surpresas para ir desvendando a cada passo.

- Obrigado pelo jantar, acho que são horas de ir.
- Não, quero que fiques.
- Tens a certeza? Não te quero magoar… - Sem o deixar terminar Sara interrompe.
- Fica!
Pondo-lhe uma mão nos lábios para ele não falar o “fica” dela entoou como um eco pela cozinha onde já se encontravam sozinhos. No silêncio de um longo olhar ela beija-o e volta a pedir-lhe.
- Fica.
Ele aceita, e nessa noite eles dormiram juntos mas não fizeram amor. Kevin aceitava bem o facto de não a querer pressionar, lidava bem com o facto de por vezes ter de esperar e aguardar que certas coisas acontecessem apenas na altura certa.

“O amor é fé e não ciência”
- Francisco Quevedo -


Fotografia: Rodrigo Oliveira !! http://rodso-art.blogspot.com/

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